sábado, 24 de fevereiro de 2007

Apenas um desabafo de Tristesse I

SOLIDÃO DE UMA FORTALEZA IV


Do cais do porto pode se vê-la
Alta e imponente, suas alvas muralhas e sua presença altiva
Ela se torna sombra para aqueles que buscam refresco do calor do sol
Também se torna abrigo e alento para viajantes
incautos que são pegos de surpresa pelas tempestades
Ela está ali, ao que parece a todos, ela sempre esteve e sempre estará ali
Suas pedras são aparentemente frias, por entre a argamassa
se insinuam ramos de hera e flores selvagens
Em seus labirintos escuros não se permeia a luz,
pois não houve quem ousasse fazê-lo
Não houve mago ou cavaleiro, tampouco houve artesão ou
tecelão que lhe buscasse saber mais de seu interior
Afinal ela sempre estará ali, às vezes, para ser abrigo e aconchego,
outras para ser apenas forte de proteção
Mesmo quando tudo passar aparentemente ela estará ali
Continuará emperdenida e austera, seus corredores e
alméias esperando por luz e perfume
Esperando ensimesmada em sua inescrutável invisibilidade
Sendo corroída esperando o tempo galgar-lhe
sulcos que a tornem ruína desfigurada
Aguardando silenciosamente por uma onda ou
avalanche que a transforme em pó
Quem sabe assim, quando grão de areia tornar-se
Ela então poderá sentir-se parte do mundo que a rodeia
Pois, seu molde forjado em frieza e rigidez a faz ser solitária
Em seus estreitos corredores, escondem-se sussurros e lamentos
Escondem-se esperanças vãs que se esvaem ao som de uma lágrima a rolar
O fantasma de sua alma é quieto, não soluça ou grita
Tampouco faz festa ou carrega correntes
Ele apenas está lá, para que talvez algum dia alguém o perceba
Espera em vã que alguém galgue por suas muralhas,
que lhe descubra os segredos e lhe invada os domínios
Sua busca e sua espera se mesclam ao
clamor de sua figura impávida e colossal
Torceram-lhe e moldaram-na dessa forma, mas esqueceram
de lhe dizer que em uma fortaleza não existe espaço para a alma
Existe espaço para a solidão e existe espaço para o vazio,
e principalmente existe tão somente espaço para a força
A força de não negar abrigo ou proteção,
de ceder aconchego sem esperar retribuição
Todos ao redor passam, e ela fica, sempre em vã esperança,
seus soluços são abarcados pelas ondas e pelo mar
Suas lágrimas escorrem silenciosas e cálidas por sua face oculta,
Sua solidão ...
Sua fortaleza ...
A solidão de uma fortaleza está naquilo que poucos podem se dispôr a fazer
Algumas pessoas são assim, se demonstram fortes e instransponíveis, mas como qualquer gota de oceano, quer simplesmente fazer parte e não estar à parte.

Autoria: Cristiane Schilipack em 20/02/2007

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse lugar pra mim por si só já tem alma... a sua e parte daqueles que passaram por lá, que deixam um pedacinho de sua história e ajudam a fortaleza a construir a sua própria.
Ela aguenta as ondas, mas ela nunca estará só. Sempre haverá alguém buscando refúgio em seu interior e encontrando calor, enchendo-a de mais e mais vida.
Beijos