domingo, 22 de abril de 2007

Apenas um desabafo de Tristesse V



A DOR


Dor insana
Que permeia meu ser
Aniquila com tudo
Deixa a casca intacta

O ser interno se torna
Cada vez mais taciturno
Como fazer para enterrar a dor?

Não se pode esmorecer
Não se pode permitir cair
Não se pode fazer nada

Apenas se tornar uma máscara
Nada mais a fazer
Caminhar incólume e à margem
Impassível e intocável
Inatingível como uma estrela cadente

Morta e enegrecida tal qual
Uma ruína tomada pelo fogo
Porém, ereta e altaneira
Como um soberbo minarete
Em meio ao deserto

Continuando a ser tão somente
Porto ou abrigo
Asilo de muitos
Contudo sempre se encontra
Descoberta e fustigada pelos
Ventos e tempestades

Não há fuga
Não há caminho de saída
Está ali e ponto
E poucos são capazes
De lhe observar a dor
Tampouco poderem
Lhe dar alento

Pois aos ventos e as tempestade
Que fustigam sua face sem cessar
Não lhe permitem ser aquilo
Que gostaria de ser

Em meio ao lago de fogo que a cerca
A alta temperatura a molda
Impenetrável, incorrupta e intocável

Dilacerada e sufocada pelos gases mortais
Seus gritos não podem ser ouvidos
Porque são silentes ante os trovões
E relâmpagos, e como não há a beleza
Não há encanto, o desafio
Não vale o preço da conquista

Enfim só lhe resta
A dor ...
Clamante e pungente
Que a recorda de ser
Sólida e solitária

De vez em quando
Um raio de sol permeia
Seu cárcere eterno
Seu ser sombrio se ilumina
Momento fulgaz que passa
Como um suspiro derradeiro

E a dor volta clamante
Por sua mente e alma
Seu corpo se contorce ante aos grilhões
Mas, sua força se esvai

Restando apenas a aparência
Nada mais que a capa protetora
Pois sua função está em ser abrigo
Dar alento e conforto
Todavia, jamais receber em troca

Sua função consiste em nunca
Esmorecer ou cair
Não importa a dor,
Não importa se é humana
Se é Mulher ou não

Seu destino jaz em apenas
Sentir ou perceber a dor
Própria ou alheia

Amar ou ser amada
Isso nunca acontecerá
Porque não possui o
Talento exigido para tal coisa

Silente e solitária
Invulnerável e impenetrável
Não há espaço para docilidade
Não há tempo para carícias
Nem tampouco para sonhos

O único morador resilente
É a dor, apenas dor
Para lhe mostrar
Quão mordaz pode ser
Seu açoite ...

O alívio de um raio de sol
Sempre será substituído
Por inúmeras chibatadas

Punição por ter ousado
Se lembrar da esperança
De ter almejado ser amada

O Riso plangente da Dor
A faz estremecer
O frio caótico dentro

Da insípida alma que teima
Em continuar humana
Se recusa...

Mesmo atada aos grilhões
Enfrentar a Dor como um tordo
Preso nas patas de um gato furioso

Por mais lastimosa e triste
Que se encontre,

Ela ao menos revive
Ante pequenos espaços
A lembrança do calor do sol

A amargura seca sua boca
As lágrimas correm sem embaraço
E a Dor aplaude de camarote
Mais uma vez sua insana vitória
Sobre uma alma torturada




Autoria: Cristiane Schilipack
Poesia criada em 22/04/2007
simplesmente para F. V. D. B.

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